July 6, 2009
Velejadoras de diferentes classes vivem o início de um novo ciclo olímpico. Desta vez, com objetivos bem maiores: medalhas
O Brasil vive um momento muito especial em sua história da vela feminina. Com a conquista inédita da medalha de bronze por Fernanda Oliveira e Isabel Swan, na classe 470, na olimpíada da China, na raia de Qingdao, as meninas do iatismo nacional parecem ter despertado para suas reais possibilidades no esporte.
Quase um ano após a conquista da dupla brasileira, o maior evento náutico da América Latina, a Rolex Ilhabela Sailing Week, recebe um número recorde de participantes femininas, com cinco embarcações de tripulação exclusivamente de mulheres, além das velejadoras que competem em equipes mistas.
Uma das protagonistas dessa virada de página, a gaúcha Fernanda diz como é vivenciar esse momento: "É muito bacana. Realmente dá para perceber um número muito maior de mulheres na raia e envolvidas com a competição".
Para a medalhista olímpica, sua conquista na China pode significar a referência que ela mesma não teve, ao longo de sua trajetória. "Quando eu pensava em olimpíada, me mirava em mulheres como as meninas do basquete, as meninas do vôlei. Quero dizer, não havia uma figura feminina para eu me guiar na vela, seguir os seus passos", diz Fernanda.
A velejadora, que já iniciou seu ciclo olímpico com vistas a Londres-12, acrescentou que o resultado que conseguiu com a parceira Isabel pode mudar um pouco essa situação. "Não me vejo como referência. Mas nós conseguimos uma medalha às custas de muito, muito trabalho. E esse trabalho, sim, pode servir de referência para aquelas que querem chegar lá", ensina.
Sua parceira na China, Isabel Swan, concorda: "Nosso treinamento para Pequim foi muito, muito puxado, pois sabíamos que o nível era fortíssimo. Virar essa página, ou seja, conquistar a primeira medalha para a vela brasileira, pode sim servir de referência para nós mesmas e para outras velejadoras de grande categoria que temos no Brasil", aponta Swan.
Sobre Ilhabela, a medalhista dá seu recado: "Nos preparamos muito para a Rolex Ilhabela Sailing Week. Viemos para essa semana com o objetivo de disputar o pódio com os 'meninos'", avisa, com bom humor.
Para o futuro, Swan tem como meta clara a classificação para Londres-12: "Considero as inglesas, francesas e holandesas como potências a serem igualadas. Mas nossa medalha com certeza nos dá maior destaque e confiança. Estou no começo de um ciclo olímpico, com uma nova parceria - que vou anunciar em agosto -, e minha busca será repetir ou superar o feito de Qingdao", promete a velejadora carioca.
Quando fala das velejadoras mais novas, que iniciam suas carreiras agora, Fernanda aponta Juliana Senftt, de 20 anos, como um bom exemplo: "Ela sabe o que quer. Colocou na cabeça uma meta e estabeleceu um plano para atingi-la. Tem de ser assim. Não dá para ser diferente", comenta.
Revelação citada por Fernanda, a carioca Juliana veleja desde os três anos e busca, com sua equipe, concluir seu ciclo olímpico, que já está em curso: "Temos participado de competições internacionais, buscando experiência e medindo forças com as melhores do mundo, como as francesas", conta.
A timoneira do barco Eiger,- também de tripulação feminina - concorda que o momento da vela brasileira é especial e aponta justamente as medalhistas - e amigas - como exemplo: "Você olha para o modo como elas se dedicam, como elas treinam, e vê o caminho que tem de seguir", revela.
Suas companheiras de embarcação são Gabriela Nicolino de Sá, Marina Cárdia Jardim e Adhara Ginaid, todas da seleção brasileira da classe Match Race. "A Rolex é uma competição importante, de grande exposição, em que é possível divulgar o nosso projeto olímpico", considera Juliana.
Para Juliana, que busca conciliar a vela profissional com a faculdade de Educação Física, há duas metas bastante claras, daqui até Londres: "O primeiro objetivo, claro, é a vaga olímpica. Mas não posso mentir: eu fecho o olho e sonho com uma medalha. Não dá para evitar". Se depender de DNA, ela pode sonhar à vontade: seu pai, Ronaldo Senftt, conquistou a medalha de prata na olimpíada de Los Angeles-84, na classe Soling, ao lado de Daniel Adler e do maior medalhista olímpico brasileiro, Torben Grael.
Se depender da vontade e do empenho de Fernanda, então, a vela feminina pode superar a marca de Pequim e conquistar mais de um lugar ao pódio. "Antes de ser uma referência, pretendo competir muito ainda. "Quero ser a 'Fernanda' ainda por um bom tempo", brinca, com relação ao fato de ter se tornado um modelo a ser seguido.
"A ficha (da importância do bronze em Qingdao) só cai mesmo quando a gente se encontra com aqueles que nos viram treinar desde pequenas. O pessoal do clube, em casa, etc. Aí sim a gente sente que realizou algo grande", conclui.
Na 36ª edição da Rolex Ilhabela Sailing Week, Fernanda Oliveira comanda o J24 Diferencial, na classe ORCi, cuja tripulação é composta ainda por Ana Luiza Barbachan, Anelise Caminha, Denise Chagas, Giorgia Rodrigues e a mirim Luiza Lutz.
A parceira olímpica de Fernanda, Isabel Swan, por sua vez, é tripulante do Bamberg, um HPE25 de tripulação exclusivamente feminina, comandado pela medalhista pan-americana e atleta olímpica Adriana Kostiw. No barco, também estão Andréa Rushmann, Odile Ginaid e Corina Bremer.
Na Rolex Ilhabela Sailing Week, o AMNI Cristal é outra embarcação, de 32 pés, só com mulheres a bordo: Andréa Rogick (comandante), Andréa Tedesco, Isabela Malpighi, Marina Dombrowsky, Renata Bellotti, Sandra Vilarinho e Camila Rogick de Aguiar.
Ainda pela competição, o veleiro Jazz, de 36 pés, é o maior barco comandado por uma mulher. Valéria Ravani, que conta com outras sete mulheres e mais dois homens: Cristina Lueth, Tais Garcez, Daniela Sanchez Andrei, Nívia Teixeira, Rachel Russo e Andréa Videira. Além de Ralf Brüder e Eduardo Mateus.
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